Pelo direito à desistência e à indisposição...
Pelo direito de dizer "já chega", sem ter que pedir clemência...
Pelo direito de "passar a vez"...
Pelo direito de ir embora, bater a porta e nem se quer olhar para trás...
Pelo direito de romper, murchar, desfazer(-me), desmanchar...
Pelo direito de falhar, fracassar, de "sair pela tangente" e ser "tiro que sai pela culatra"...
Pelo direito de ser o fruto verde que cai da árvore sem ter cumprido sua missão na maravilhosa engrenarem da vida, por puro tédio...
Pelo direito de me lançar ao mar com roupa e tudo, em pleno horário de trabalho, cruzar os braços e morrer na praia...
Pelo direito de não ter respostas, de não saber a direção e de não querer perguntá-la a ninguém e me perder...
Pelo direito de me resignar, sentar, pôr as mãos na cara e chorar, sem ter lágrimas para entregar ao chão...
Pelo direito de não afastar minha carne da navalha e ter medo e sangrar e ver fluir pelo chão a minha vida, na noite, correndo para o ralo, assim, sem tanta poesia...
Pelo direito de transgredir-me e fugir-me...
Pelo direito de me deslocar, deslizar, fluir a despeito das pessoas sólidas, estáticas, bem definidas e decididas!
Pelo direito de parar, de (me) recusar, de (me) negar...
Pelo direito de desejar não estar, não fazer e não ser...
Pelo direito de resistir, insistir e persistir em desistir...
E pelo direito de não me permitir nada disso...
apenas pelo direito de não ser!
_______________Danilo Pereira
